
Lembro bem pouco do julgamento de O.
J. Simpson, e tudo o que sei foi das notícias e pesquisas que fiz posteriormente.
Lembro muito bem da Copa do Mundo de 1994, ocorrida nos Estados Unidos
em meio ao furacão que se transformou esse caso, que se tornou o julgamento do século. As imagens que me
veem a mente são de O. J. em pé no tribunal, colocando a famosa luva preta utilizada
no crime, e também lembro de seu advogado falando com o jurados, de resto são
lembranças de notícias posteriores ou dos filmes engraçados com Leslie
Nielsen,
Corra
que a polícia vem aí, em que o jogador de futebol americano fez algumas
participações. Mas esse julgamento foi um espetáculo midiático, onde a imprensa
se tornou um personagem muito importante, que com certeza influenciou o desfecho. Livros, documentários, reportagens, muita coisa já saiu sobre o julgamento e
a série apresenta em sua primeira temporada a história de todos
os envolvidos, com uma visão da defesa e da promotoria, sofrendo a exposição da mídia ou se deliciando com ela.
Só pelo elenco você já percebe que a série
teve um tratamento especial. Foi um grande sucesso de público, e a crítica
adorou. Os americanos puderam relembrar o caso e olhar para os próprios erros,
e quem sabe se sentirem novamente divididos como na época. Num Brasil
também dividido politicamente, onde há uma necessidade de defender políticos e
culpar outros independente dos dois lados serem corruptos, a série também será bem-vinda,
pois gerará discussões. Até hoje o caso é cheio de polêmicas. E é uma história
real com uma reviravolta e envolvimento da população que dá um ar fantasioso
aos acontecimentos.
Cuba Goding Jr. interpreta o esquentado e impulsivo
ex-jogador de futebol americano O. J. Simpson, o Juice,
querido por seu talento no esporte e conhecido publicamente, várias vezes tendo
seus feitos em campo relembrados pelos fãs. Numa noite de junho de 1994 sua ex-esposa
e um amigo são encontrados assassinados e uma trilha de sangue liga a casa dela
até o carro Bronco branco de O. J. em frente à sua mansão. A
polícia também encontra no quintal uma luva de couro preta com traços de
sangue, dando início à investigação que tomaria grande parte do tempo dos
cidadãos americanos em frente a TV. O. J. se torna o principal suspeito,
com todas as provas apontando para ele, com seu temperamento explosivo e um passado
de agressões domésticas, parecia óbvio que seria um julgamento fácil para a
promotoria. Mas todos sabemos que não foi bem assim.

Logo no início da série, os produtores
sabiamente refrescaram a memória do telespectador com as cenas reais dos
problemas raciais que ocorriam em Los Angeles em 92, onde uma onda
de manifestações, incêndios e depredações ocorriam na cidade em decorrência de
vários atos racistas, em especial o caso de quatro policiais filmados espancando um negro e absolvidos, e negros sendo julgados e
condenados por júris totalmente brancos. Infelizmente sabemos que pessoas ricas
e famosas não costumam ir presas, e ter um negro nessas condições na prisão
poderia representar que a cor da pele é algo que sempre prevaleceria. É nesse
contexto que tudo se inicia, em 1994, e a acusação contra O. J. representava a
maneira como a comunidade afro descendente era tratada em L.A.
Ao assistir a série você percebe que os
atores pesquisaram bastante e fizeram laboratório para ficarem parecidos com as
pessoas que interpretam. John Travolta, que também é
produtor do programa, está bem diferente dos tipos que está acostumado a
representar no cinema. Aqui dá vida ao vaidoso Robert Chapiro,
advogado famoso e especialista em acordos que ajudará a defesa a transformar o
julgamento num show. Ao seu lado estão o advogado veterano F. Lee Bailey (interpretado por Nathan
Lane)
e Eddie
Cochran
(Courtney
B.
Vance), o advogado que citei no início. Conhecido por defender a
comunidade negra e por ser advogado de Michael Jackson, Cochran
ficou ainda mais conhecido com esse julgamento, sendo o principal responsável
pelo desfecho do caso. Quando vi o ator fiquei impressionado por lembrar bem o Cochran
na vida real.

Outro advogado e grande amigo de O. J.,
Bob
Kardashian,
pai da então jovem Kim Kardashian (interpretado pelo eterno Friend, David
Schwimmer),
parece ser o que mais sofre com as desventuras do amigo. Não podemos esquecer
da promotora Marcia Clark, que a atriz Sarah
Paulson,
de American
Horror
History,
interpreta tão bem. Ela tenta enfrentar os melhores advogados do país, talvez
os melhores do mundo, num processo desgastante e até pessoal. Era a reputação
dos advogados, o futuro de Simpson, e as convicções de Márcia
em jogo. Ao final já sabemos o que vai acontecer. Anos depois o ex-jogador
revela como matou a ex-esposa e entra para o mundo do crime, dessa vez indo de
vez para a prisão. Mas já estava falido, com uma marca de assassino parecendo
estampar sua testa. Mas se algo mudou na maneira dos americanos pensar, o tempo
pareceu esquecer, pois o negro ainda sofre as mazelas que sempre sofreram. Quem
ganhou com isso? A mídia, que teve picos de audiência, maiores que final de NFL
ou Copa
do Mundo. Advogados mal vistos, sistema judiciário pressionado, negros
sem oportunidades, mulheres sendo maltratadas no lar, tudo isso perfazem uma
história de crime americana.

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