
Se na capa da HQ que você tem nas mãos
está informando que o roteiro é escrito por Brian K. Vaughan nem
precisa se dar ao trabalho de pensar, pode ler que é garantia de satisfação.
Depois de tantos trabalhos memoráveis, como Y - O último homem e Saga,
eu escolhi o Detetive Particular (no original é The Private Eye) para estrear o autor aqui
no blog. Mesmo sendo lançada direto na internet em 2013, essa história se passa
no futuro sem internet. Esse contraste entre o foco da história com o meio em
que ela é disponibilizada ao leitor é proposital. Enquanto Y foi lançado pela DC
Comics para o selo Vertigo e Saga foi lançada pela
Image, que conforme palavras de Vaughan se tornou sua casa, Detetive
Particular
foi disponibilizado diretamente na web e os clientes pagavam o valor
que eles achavam justo pelos capítulos, e parece que deu certo.
De longe foi a HQ que mais gostei de ler
no tablete, pois foi feita e adaptada para a tela, sem precisar aumentar para conseguir
ler algumas partes ou diminuir para ter uma noção completa da imagem quando são
duas páginas unidas. Sem essas necessidades, a narrativa segue sem paradas, e
parece realmente um filme de ação, ainda mais aliado ao estilo dinâmico de Vaughan,
que vai te situando aos poucos nesse novo mundo sem precisar de balões
explicativos ou legendas que relembrem fatos passados. Flui igual água caindo da
torneira. E você curte, se envolve e se vê nesse mundo, se imaginando na pele
de uma pessoa que vive nesse futuro.
Conheço pessoas que iriam precisar de
psiquiatras para conseguir viver nesse panorama, onde uma pane na internet fez as
nuvens de dados explodirem e todas as informações ficaram soltas para qualquer
um ver. Não havia mais segredos, empresas faliram, famílias foram desfeitas,
reputações foram manchadas, tudo foi revelado. Imagina você ficar exposto para
o mundo inteiro, com segredos, defeitos e mentiras disponíveis para quem quiser
ter acesso. Ninguém confiaria em ninguém, não existiria privacidade. Toda conversa, fotos e transações feitas na net não teriam
segurança. Desta forma foi o fim dela. Esse evento ficou conhecido como o Dilúvio. Todos os seres humanos passaram a usar máscaras em público para proteger sua imagem, transformando as ruas do planeta em verdadeiros desfiles de Carnaval. Segundo o mostrado na história, o advento do planeta sem internet fez com que a tecnologia avançasse ainda mais, pois o tempo perdido antes do Dilúvio com a internet agora foi direcionado para os avanços tecnológicos mais úteis.
O trabalho de investigação nesse futuro é extremamente complicado. P. I. recebe a ajuda de Raveena, irmã de Taj, que quer descobrir quem a matou, ao mesmo tempo que fogem de uma dupla esquisita de assassinos. E o vilão por trás desse e de outros crimes tem um plano que poderá mudar o destino do planeta. É uma HQ com muita ação, fugas, perseguições, mistério e investigação, o colorido das cenas chamam muito a atenção, os personagens te cativam instantaneamente e as motivações para seus atos são bem elaboradas. P. I. teve um trauma de infância com a mãe, que o torna um paparazzi, cheio de ligações com pessoas que lhe devem favores e que acabam ajudando à contragosto no desenrolar da investigação.

Mas o maior avanço foi o empoderamento da imprensa. A informação se tornou um bem muito valioso. Onde antigamente as pessoas conseguiam se esconder por trás da tela do computador, aqui eles necessitam se contentar em não ter acesso às informações que vinham de graça na web. Se por um lado as pessoas conseguem se manter secretas, por outro lado os sites de fofocas não tinham muito o que mostrar, ficando a cargo de detetives particulares conseguirem criminosamente essas informações. Quem faz esse tipo de serviço ficou sendo chamado de paparazzi, como o caso de P. I.. Logo no início da história o vemos invadindo uma casa para conseguir tirar foto de uma mulher sem a máscara para um homem que queria saber como estava sua namoradinha de infância. Mas P. I. (iniciais de Patrick Immelmann) recebe um pedido de trabalho de uma misteriosa mulher, com a máscara holográfica de um tigre, chamada Taj, que o contrata para vasculhar sua própria vida e verificar se ele encontra algo, ou seja, quer se certificar se algo misterioso ficou bem escondido. P. I. aceita o serviço, mas tal qual um detetive particular de filmes noir, ele acaba entrando em uma enrascada. A mulher é assassinada com seu nome escrito na própria mão.
O avô de P. I. é o personagem que mais irá chamar a atenção, por se tratar do futuro de muitos gamers e nerds que adoram a internet. Difícil imaginar essas pessoas com seus sessenta e setenta anos, tendo toda uma vida atras dos computadores e video-games on-line, e o avô de P. I. pode ser considerado o futuro dessa geração, sem conseguir se adaptar a esse mundo sem internet e inconformado por não conseguir jogar com outras pessoas on-line. Se um dia chegar nessa idade que seja igual a ele. Enfim, mais um ótimo trabalho de Brian K. Vaughan, com arte de Marcos Martin. Excelente.
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